Memorial de Leitura: Reflexão sobre o processo de letramento
(experiência)
Quando pequena, por volta dos três a cinco anos de idade era comum passarmos as férias na casa do meu avô materno. Lembro perfeitamente do terreiro enorme ora cheio de bois e vacas, ora cheio de cabras, ovelhas, bodes e carneiros. Todo dia tinha leite, coalhada e requeijão feitos por minha avó. Costumeiro também era acompanhar meus tios e tias fazendo farinha de mandioca, tirando tapioca e fazendo beiju no forno de pedra e em meio à lida do dia causos e histórias da nossa gente eram contados. Meus primos e eu ficávamos encantados.
Já na adolescência, morei um tempo com minha avó paterna (meus avós eram adoráveis), nós a chamávamos de Iaiá. Não havia luz elétrica, portanto nada de TV. Não fez falta alguma. Em frente a casa onde morávamos havia uma enorme lagoa de água salobra. Eis nossa rotina: Café da manhã bem cedinho, os adultos iam pra roça e nós as crianças e adolescentes íamos para a escola, nas férias nós as mocinhas cuidávamos da casa, dávamos comida aos bichos (galinhas, porcos) e cuidávamos da horta. Depois do almoço lá por volta das três horas tomávamos banho nesta lagoa, pura diversão! Durante a noite depois do jantar, quando não tinha lua cheia para brincarmos no terreiro, ouvíamos os causos que Iaiá e meus tios contavam à beira do fogão de lenha. Tinha de tudo de anedotas a causos de assombração, e estes eram os preferidos. Eu morria de medo de dormir sozinha nestas noites e pulava na cama de minha avó.
Voltei para São Paulo e fui morar com meus pais novamente e já na quinta série a professora de Português leu para a minha turma um livro da Série Vaga-lume: Os pequenos jangadeiros. Ficávamos ansiosos pela aula de Português, porque todo dia no finalzinho da aula ela lia um trecho e sempre parava no melhor da história, só para aguçar o gostinho de quero mais. Sucesso total! A partir daí comecei a devorar livros, gibis e revistas para meninas adolescentes. Não parei mais de ler.
Um dia desses eu estava participando de uma dessas assessorias pedagógicas de editoras em meu município, era a apresentação de um livro didático, então a uma certa altura da palestra a autora do livro lançou a seguinte pergunta: Quem aqui é um leitor contemplativo? Adivinha quem levantou a mão? Meus colegas ficaram me olhando torto, me achando exibida. Mas é verdade respondi com um sorriso amarelo.
Eu realmente amo ler, leio tudo com prazer mesmo.
Quando minha mãe, minha irmã e eu fazemos um programa de mulheres “compras” e passamos em frente de uma banca de jornal ou em frente a uma livraria minha mãe se desespera: - Ah, não! Oh meu Deus! Vai demorar! Nós achamos graça.
Quando leio algo bonito, tocante ou importante sempre quero compartilhar aquela leitura com quem está próximo. Às vezes, me sinto um E.T. porque muitas vezes as pessoas estranham ou não gostam mesmo de ouvir, acham chato.
Gosto de escrever histórias também. Escrevi uma dessas versões de Chapeuzinho Vermelho, claro que não ousei mostrar para quase ninguém. Literatura infantil é o que eu gostaria de escrever. Quem sabe um dia.
E tudo começou lá na casa do meu avô Antenor. Quanta riqueza... Quanto foi importante para meu processo de letramento viver sempre em contato com livros, revistas e histórias em casa e na escola e não foi nada proposital com o intuito de me fazer ler como temos que fazer hoje em dia com os nossos educandos. Adoraria que meu filho tivesse vivido experiências semelhantes. Ele também lê por prazer, mangás e revistas. Ainda não se apaixonou pelos livros. Tenho esperança.
Outro dia fiz a mesma proposta para a minha turma da sexta série (alunos de zona rural e urbana), que minha professora da 5ª série de Português fizera anos antes e escolhi o livro A árvore que dava dinheiro. Eles adoraram. E começaram a partir daí a visitar a biblioteca com uma freqüência maior, pedindo sugestões de livros ou perguntando se o livro em questão era bom ou ruim. Surgiu também a oportunidade de participarem de um concurso de redação do Instituto Ecofuturo: O mundo que agente quer depende do que agente faz. Não houve nenhum classificado, porém aqueles que foram selecionados pela escola ganharam um livro do Instituto Ecofuturo por terem aderido a proposta daquele ano. Meus alunos eram um orgulho só. De vez em quando trocávamos os causos contados por nossos avós. Eram as trocas. Muito bom. Quando passo por eles na rua sempre tem um ou outro que recorda essa experiência. Hoje estão na oitava série e são uma turma de destaque na escola pelo seu bom desempenho nas disciplinas estudadas.
Tem um livro que marcou a infância do meu filho e da minha irmã eles sempre recordam dessa leitura que fiz com saudosismo dizendo ter sido marcante para eles também: A Incrível história de Feiurinha.
Livros pelos quais me apaixonei depois de adulta:
O homem nu (Fernando Sabino);
Cinco minutos (José de Alencar);
Senhora (José de Alencar);
O mundo de Sofia (Jostein Gaardner );
Pedagogia da autonomia (Paulo Freire);
O alquimista (Paulo Coelho);
O monge e o Executivo (James C. Hunter)...
Sou assinante de revistas, esporadicamente leio jornais, faço leituras técnicas diárias por conta da profissão e nas horas livres leio e ouço música, ah! Não posso esquecer-me de mencionar: adoro teatro e cinema também. Divirto-me assim.
Preciso dizer mais alguma coisa?
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